quarta-feira, dezembro 13, 2006

Vimo-nos a braços com a predilecção

-Hoje, como em muitos outros dias, apetecia-me ter-te nos meus braços.


-Hoje, como em muitos outros dias, planeio abandonar-me nos teus braços.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Efeito Condicional de um Pronome Demonstrativo Variável combinado com uma Preposição

"Se ele não entrar naquele eléctrico, ele que é tão racional, tão terra a terra, tão céptico, nunca vai ver, na outra esquina, a rapariga que vende flores embrulhadas num jornal.

Ela, tão magra, mirrada, pequenina, fugiu daquele filme do Chaplin e jurou não mais voltar. A rapariga vive em câmara lenta, sempre com um solo de piano a sublinhar os seus gestos. Passa a vida a olhar os carros que passam, as pessoas que passam, à espera do seu grande amor, de um homem que lhe dê valor, mesmo sabendo que ela é muda como nos filmes do passado, daquelas que falam com os olhos, acreditando por todos os poros num ardor temerário, que o amor é gesto e silêncio, é um momento sublime suspenso no vento.

Se ele não entrar naquele eléctrico não vai, numa obra do tal acaso, esse sujeito tão imprevisível e parvo, apaixonar-se pela rapariga das flores.

Não vai descer quatro paragens antes da sua, voltando correndo e suando para o Terreiro do Paço, com o coração aos saltos, esbarrando em homens baixos e altos, que circulam pela Baixa com propósitos desconhecidos, talvez a caminho dos empregos ou apenas a fugir do medo, o que é normal entre aqueles que não sabem os próprios destinos.

Se ele não entrar naquele eléctrico não terá motivo para, enquanto corre debaixo da chuva fina, repassar toda a vida. Não lembrará o primeiro beijo, nem a última noite de desejo, nem o vazio da manhã seguinte, o cheiro de cigarro no quarto, nem aquela dor, espécie poética de enfarte, típica de quem está sentado na beira da cama, ao lado de uma qualquer fulana, perto de quem acaba de fazer amor mas longe de alguém que possa chamar de amor.

Se ele não entrar naquele eléctrico não vai (...). E ela não vai (...)."

-Ele não.
-E ela?
-Também não.
-Olha, eléctricos há muitos!
-Para aqueles não.


Edson Athaide escreveu o aspeado

sexta-feira, novembro 24, 2006

Outono na minha terra


Depois da forte chuvada, num dia em que o verbo ventar se fez presente, milhares de sobreviventes reuniram-se em praça pública para prestar o último adeus aos mortos, cujo número chegou já aos mil, embora a recolha continue.

Só eu vi seis espalhados por diversos caixotes, mesmo ao lado dos jornais e das cascas de banana. Outros tantos em valas comuns, rotos, rompidos, rasgados. Mortos.

Dois morreram mesmo à minha frente, estraçalhados pelos elementos naturais, a saber: muito ar, muita água e muita falta de jeito.

Condoída, é como estou, porque se há dias em que não saio de chapéu-de-chuva são dias de chuva.

Imagem roubada, claro está.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Do tamanho das coisas

mas porque é que há gente que ignora a maiúscula?

Eu cá começo sempre uma frase com uma letra tamanhosa, e até já ponderei seriamente pôr uma letra tamanhosa sempre que começo uma palavra. Mas dá trabalho, e o trabalho, por menor que seja, estará sempre de bom tamanho.

Enfim, problemas de tamanho tiram-se de letra.

Ainda o antónio e a cleo

Amar é destruir.

sábado, novembro 11, 2006

An Inconvenient Truth

Ladies and gentlemen,

We are not glad to present you “An Inconvenient Truth”.



Take a look and make your decision. Do you want a better place, or do you want no place at all?

sexta-feira, novembro 03, 2006

Só por existir.


E agora, J.?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, J.?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, J.?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou

e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, J.?

E agora, J.?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
J., e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse

a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, J.!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, J.!
J., para onde?


Itálicos de Drummond de Andrade

terça-feira, outubro 24, 2006

Se complica la trama


Corso estuvo en Lisboa menos de cinquenta minutos; el tiempo justo para ir de la estación de Santa Apolonia a la del Rossío.

Itálicos de Arturo Pérez-Reverte

terça-feira, outubro 17, 2006

Macaquinha de citação


Dear Quotation
Please walk by me again
With a drink in your hand
And your legs all white
From the winter

Poderiam até ser as mesmas pernas. Poderiam até, e digo-o já num registo assumido de fé, ser brancas, acompanhadas de mãos com bebidas. Mas, caramba, confundir a Quotation com a Heather?

Só mesmo quem não as conhecer muito bem a ambas.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Com voz ou sem vós, camaradas, Ele não seria possível

Este blogue é cá uma coisa. Transparente que só Ele.
Leva-se à letra, faz o que diz. Cumpre-se.
Este blogue cumpre-se: Ele é nem chus nem bus bytes a fio.

sexta-feira, setembro 29, 2006

The Prince... of Bel-Air


- Por favor... desenha-me um gato!
- O quê?
- Desenha-me um gato...
- Mas... eu não sei desenhar!
- Não faz mal. Desenha-me um gato...
- Pois... mas... e que tal uma ovelha? Queres uma ovelha?
- Não! Não! Não quero uma ovelha para nada!

Cansei-me daquilo! Fui dar uma volta pela rua de polaroid na mão. Depressa voltei com a fotografia de um gato.

- Toma – disse-lhe – é tudo o que posso fazer...

Raio do miúdo!

quinta-feira, setembro 14, 2006

Não ficarei indiferente


A subnutrição e fome matam uma criança no mundo em cada seis segundos, ou nove em cada minuto.Cerca de 10 anos passados desde que foi lançado o desafio do Milénio -de reduzir a fome no mundo para metade até 2015 -, o número de pessoas afectadas pela insegurança alimentar (fome e subnutrição) aumentou em 18 milhões, ascendendo a 852 milhões no final de 2002. O documento anual da agência das NU para a Alimentação e Agricultura (FAO) indica que, por ano morrem ainda, cinco milhões de crianças vítimas da fome e carências alimentares.(Diário Digital)

Foto e texto no Gin Tónico

sexta-feira, setembro 08, 2006


Desconfio sempre de alguém que escreveu bem mas muita coisa. Porque o mais provável é que tenha sido apenas alguém que sabia escrever bem e que resolveu, por isso, escrever muita coisa.

Uma pessoa só nunca deve ter muita coisa para dizer, pode até dizer a mesma coisa de muitas maneiras, mas nunca dizer muitas coisas de muitas maneiras. Afinal, quanta gente cabe só numa pessoa? Uma pessoa só não podem ser duas pessoas só, ou quatro pessoas só, porque duas- ou quatro- pessoas só são logo duas - ou quatro- pessoas, e ser duas- ou quatro- pessoas não é só.

À parte o acreditar que estas não podem sequer existir, acresce que confio sempre em alguém que tenha escrito bem, mas uma coisa só, mesmo que muitas vezes, de muitas maneiras (heterónimos incluídos). Porque o mais provável é que tenha sido apenas alguém que sabia escrever bem e que resolveu, sem ser por isso, escrever-se.

Logo, eu não desconfio de ninguém que escreva bem. Porque o mais provável é que mesmo que alguém que escreva bem tente e queira escrever muita coisa acabe sempre no ponto de partida: na coisa só.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Anything new?


Eu sempre de um lado para o outro. De um lado para o outro. De um lado para o outro. Talvez mais uma vez. Sim. De um lado para o outro. Deste lado sou eu. Neste outro também. Sempre eu. Sempre de um lado para o outro.

E agora tocam à porta. E eu visto-me. Não penso em vestir-me, ouço tocar à porta e visto-me sem pensar. E continuam a tocar, porque antes de abrir visto-me. E enquanto me visto eles tocam, sempre tocam. Mas não me tocam. Visto-me primeiro. Depois já estou vestido e quem agora estiver do outro lado da porta, ao ver-me, já deste lado da porta, assim vestido... Sim, porque eu visto-me primeiro.

E quem estiver do outro lado da porta ao ver-me deste lado pensará que me vê, mas eu estou no outro lado. No lado da porta fechada, antes do toque, antes das roupas. E eu não sou só eu, porque sou eu sempre de um lado para o outro, sem ser sempre o mesmo num lado e no outro.

Imagem de Colin Thompson. Um bem haja à Dina que vai entrar e ficar.

terça-feira, agosto 29, 2006

Smile like you mean it



Este é o décimo sétimo ano em que morres.

E a tua morte é sempre nova em mim.
Não amadurece. Não tem fim.
Se ergo os olhos de um livro, de repente
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
[...]
Viverei até à hora derradeira a tua morte.
Aos goles, lentos goles.
[...]

O único presente verdadeiro é teres partido.

Itálico de Adolfo C. Monteiro

segunda-feira, julho 17, 2006

Ser cruel é ser mais alto, é ser maior do que os animais


Só o Frodo reduziu a população de chimpanzés na selva do Parque Nacional de Gombe em 10%.
Entre outras barbaridades, espancou até à morte inúmeros chimpanzés, que se debatiam no solo agarrados por outros sob o seu comando.

Arrancou unhas, rasgou carnes, infligiu dor.

quinta-feira, junho 29, 2006

What's in a name?

Apercebi-me, e não faz muito tempo, de que a minha auto-estima é uma coisa importante. E agora sei-o porque o meu compincha disse-me, e não faz muito tempo, a tua auto-estima é uma coisa importante.

Tenho este defeito de só me aperceber das coisas quando alguém me diz as coisas, por muito que já as tivesse percebido, ou por muito que já as soubesse.

É por isso que me repito muito, porque às vezes apercebo-me das coisas que digo, coisas que eu já sei e/ou percebo, mas que não apercebo. Se calhar estes três verbos até querem dizer o mesmo, mas eu não, e o que importa é o que eu quero dizer, mesmo que as palavras me atraiçoem. Como me atraiçoam aqueles que me ferem a auto-estima.

Mas nesse momento, ou em momentos posteriores, quando me apercebo de que me atraiçoaram, de que me feriram a auto-estima, bom, nesses momentos, olho para um urso feio e velho (chamei-lhe Jeremias) que pendurei quase à altura do tecto -foi uma amiga que mo deu, ela foi, faz muitos anos, o urso ficou- e forçosamente levanto a cabeça.

E tudo se me levanta.
Auto-estima incluída.

É por isso que sempre respondo ao meu compincha, o Jeremias é uma coisa importante.

domingo, junho 25, 2006

Meet your Meat

Para quem não se lembra ou não viu os filmes "Matrix", uma das personagens, Mr. Smith, diz a certa altura "I’d like to share with you a revelation, I’ve had during my time here. It came to me when I tried to classify your species that I realized you aren’t actually mammals. Every mammal on this planet instinctively develops a natural equilibrium with its surrounding environment, but you humans do not. You move to an area and you multiply, and multiply until every natural resource is consumed. The only way you can survive is to spread to another area. There is another organism on this planet that follows the same pattern. Do you know what it is? A virus. Human beings are a disease, a cancer of this planet. You are a plague (...)"

Para que percebam a razão deste post, por favor, vejam o vídeo Meet your Meat (windows / Mac) onde o actor Alec Baldwin narra o quão grotesca é a inadaptação humana à natureza.

Somos ao mesmo tempo o mais evoluído e o mais irracional animal à face do planeta que acabaremos por destruir.

terça-feira, maio 16, 2006

Tenho medo

Tenho medo de cair, de voar, de não chegar, de calar, de não ver, de saber... tenho medo que me vejas, me atropeles, me sorrias... tenho medo de ti... bahh! Tenho medo e pronto!

quarta-feira, abril 26, 2006

All that fall

Meus caros,

passei por cá apenas para dar título às duas últimas intervenções. Tendo em conta que uma, coincidentemente, dá continuidade à outra, um título bastará.

É que para cair basta estar vivo.

Por pura coincidência percorro um pouco mais o caminho iniciado pelo anterior post. Por pura coincidência também, surgiu, entre outros devaneios, este mesmo tema numa das conversas do dia.

Dou termo às tais coincidências quando, propositadamente, faço minhas as palavras do Little Boy para dizer que “Our problems start when we don't dye young”.

segunda-feira, abril 24, 2006

É que o melhor do mundo são os instintos

Trintaeseteanos- Agora que acabámos de almoçar, vou cortar-te uma banana aos pedacinhos.

Quatroanos- Não, eu quero comê-la à macaco.

terça-feira, abril 11, 2006

Pride


Ninguém sabe como, mas em meio segundo subiu-lhe aquele olhar ao rosto.

E caía-lhe tão bem, que ninguém sabe como, mas em meio segundo deu a volta ao mundo, deu a volta à Vida.



Não deu, mas dei, de Guerra Junqueiro

domingo, abril 02, 2006

Silêncio, que se vai cantar... ou então não..

Motivado por um artigo publicado recentemente no jornal Público, comento, em longas linhas, a opinião do senhor Kennedy. Podem ler o artigo (necessário para perceber o contexto deste post) em http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1252698

1
- Começando pelo que os empresários acham que é o futuro da discografia, a venda on-line, as coisas são um pouco enganosas. Quando alguém quer apenas uma ou duas músicas de um álbum, sim, aí até concordo que, com algum bom senso, a pessoa deveria comprar a música na net. Mas, e como acontece na maioria dos casos, se alguém quer comprar um álbum todo, a compra on-line é um péssimo negócio. Os tais 0.99 cêntimos não são mais de que um belo engodo, uma ilusão. Deixemos de tretas e contemos 1 euro... ok? Num CD com 15 músicas, façam as contas e digam-me se não é preferível gastar 17 ou 18€ e ter a caixinha mágica nas mãos, a ter 15 coisas virtuais metidas num PC que, dum momento para o outro, por erro ou azar, manda as tais 15 músicas e os tais 15 euros para os anjinhos..! Nestes casos, que me apareça um representante discográfico à frente que eu digo-lhe onde meter as músicas on-line!!!

2 - Esses mesmos representantes discográficos deveriam partir uma perna a cada vez que nos chamam "assassinos da música", seja ela portuguesa ou internacional. É facto provado (e o próprio David Fonseca (cantor/compositor) comprovou, há uns anos, esta situação) que do exagerado preço final de um CD, o verdadeiro artista, aquele que realmente tem o trabalho e o mérito da obra, é o que menos lucra com a venda. Muitas editoras independentes, normalmente as que estão dirigidas para a música alternativa, ao terem como sua principal preocupação a qualidade e não o (exagerado) lucro, vendem os seus CD's, criados e gravados no mesmo planeta onde estão as grandes editoras, por 10€. Ora, se aqui 10€ são suficientes para pagar ao criador, para as despesas obrigatórias de gravação do CD e, ainda, para a subsistência da editora e dos revendedores, esses oh-oh-tão-santos-representantes-discográficos-oh-oh que não se atrevam a dizer que somos nós os assassinos!!! (e para o senhor oh-oh-tão-santo que deu entrevista para o Público, sim, os CD's das editoras alternativas também duram toda a vida. A única coisa que se desfaz instantaneamente são as mensagens da "Missão Impossível"!).

3
– Cabe na cabeça de alguém (com sanidade mental comprovada) que fique mais barato ir a sites como a Amazon comprar os álbuns (neste caso, internacionais), pagar despesas de portes e, mesmo assim, poupar dinheiro em relação ao mercado paralelo português??
Mesmo dentro da mais antiga fronteira da Europa (vulgo Portugal), eu próprio (e disponibilizo factura aos mais cépticos) comprei 6 CD’s de bandas de renome, por uns módicos 36€. Então, se pelo simples facto de os CD’s se encontrarem há 2 ou 3 anos no mercado, os preços conseguem baixar a este ponto e, mesmo assim, distribuir lucros pelos criadores, pelos oh-tão-santos-representantes-discográficos-oh-oh e pelos revendedores, que venha até à coluna de um qualquer jornal o senhor oh-oh-John Kennedy (o tão justo “Caça-Piratas”) explicar a que se devem os preços iniciais de um CD, com os quais os tais 36€ seriam apenas suficientes para comprar 2 CD’s.

4 – Que invadam a minha privacidade (também protegida por lei) para ver o que faço com um PC e, no mesmo tribunal onde serei acusado de pirata, pedirei uma indemnização de “2500 a três mil euros” para pagar a indemnização de “2500 a três mil euros” que me será exigida pelos (já cansativos) oh-tão-santos-representantes-discográficos-oh-oh.

5 – Quanto a outro não menos polémico tema, a cópia de CD’s, é sempre bom lembrar que por mais protecções que qualquer editora coloque num CD, haverá sempre como contornar a situação. Para já, assim que compro um CD, a própria lei me diz que, como dono de tal produto, sou livre para fazer quantas cópias de segurança eu bem entender, (e lembro a essas mesmas editoras que neste caso a gravação não pode ser interpretada como pirataria). No entanto, o que acontece cada vez mais, são situações em que não me é permitido sequer ouvir o MEU CD no PC. Com que direito é que alguém me limita as possibilidades que tenho de usufruir do, repito, MEU CD? Para exemplificar uso um caso, no mínimo cómico e curioso, que aconteceu comigo mesmo, há muito pouco tempo atrás. Chego eu todo contente a casa com o MEU novo CD, o love.noises,and.kisses, dos portugueses Atomic Bees, dirijo-me ao PC para não só ouvir como converter as músicas para mp3, de maneira a poder ouvir as MINHAS músicas no tb meu leitor de mp3. Acontece que, depois de várias tentativas, reparei que a drive de CD’s nem sequer detectava o MEU CD. Preocupado e considerando a possibilidade de defeito no CD, resolvi confirmar no leitor de DVD de sala onde, mais uma vez, não era detectado nenhum CD por parte do aparelho. Corri para o carro para experimentar no auto-rádio e o resultado foi o mesmo desesperante silêncio. Lembrei-me então do velho diskman, já com pó, mas lá resolvi fazer um último teste. Para meu espanto (e, confesso, alívio) lá ouvi as MINHAS músicas. Mas, afinal, de quem é o raio do CD? De quem o comprou (eu) ou de um qualquer anormal de uma editora que, maquiavélicamente, por não conseguir conquistar o mundo, resolveu tentar ser o único ouvinte do CD? (“Ah, ah, este é só meu! Só meu!”) – diria ele. Poupem-me!!! Com uns simples 5 minutos na net lá encontrei um software que me permitiu eliminar as monstruosas protecções. Ouvi e converti as MINHAS músicas no PC e, assim, já as posso ouvir nos tão proliferados leitores de mp3, gravar num outro CD para ouvir no carro, etc. (Sr. funcionário da editora, o seu plano falhou redondamente!)



Junto transcrevo as referidas palavras de David Fonseca, na altura ainda vocalista dos Silence 4, quando questionado sobre este mesmo tema.

“Ganhámos - doze por cento em cada disco a dividir pelos quatro. Deve dar a cada elemento da banda perto de trinta escudos por disco vendido. Não é lá muito! Eu achava muita piada quando alguém vinha ter comigo e dizia: «Comprei o teu CD, fui um dos que ajudaram a comprar o teu carro!». E eu dizia: «Se quiseres eu dou-te os trinta escudos e fico de consciência tranquila» (risos). As pessoas não têm a noção.” (in Jornal Expresso, suplemento "Vidas", entrevista de Ana Soromenho e Víctor Rainho).

quarta-feira, março 22, 2006

"Partiu-se a corda do automóvel velho que trago na cabeça, e o meu juízo, que já não existia, fez tr-tr-r-r-r-..."

Estava sem conserto, aquele velho carro. Mas viajou tanto. Mostrou tanto.
Foi o melhor carro de todos aqueles que viajam, mostram e, no fim, fazem tr-tr-r-r-r-...

Na verdade, aquele carro nunca parou. Já consertou tantas e tantas vezes as nossas cordas, partidas também, mas em silêncio.


Aspas do bólide chamado Pessoa

sexta-feira, março 17, 2006

Vidas


"Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira."

Há coisas que fartam e amachucam. Partem.
Lemos tantas vozes e vidas, e não conseguimos ter uma sequer...


Itálicos de Álvaro de Campos - Opiário

domingo, março 12, 2006

Aos pedaços me abarroto


"A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento..."


Na verdade,
A vida é feita de pequenos nadas:
De grandes sestas adiadas
À espera do seu momento.

Deixem-me dormir, que o sono liberta.


Aspas de Miguel Torga, imagem de Rodríguez-Acosta

sábado, março 11, 2006

Da legitimidade do fracasso

CURATE, Francisco. Daedalus, A realidade não tem a mínima obrigação de ser interessante. Blogspot, 2003.

JEREMIAS. Nem eu. Lisboa, Blogspot, 2005.

quarta-feira, março 08, 2006

Lullaby


Espalhem a notícia do mistério da delícia desse ventre.

A pele onde à tardinha desemboco.

Tão cansado.

Eu

vou

ao fundo

de mim.

Itálicos de Dom Sérgio Godinho, imagem de Christian Coigny

sexta-feira, março 03, 2006

Efeito placebo


O que não a matava tornava-a mais forte, porque a fizeram acreditar que aquilo que não a matava a tornava mais forte.

E ela não morria. E estava mais forte.







Eva de Jedediah Dougherty

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Si el sabio no aprueba, malo! Si el necio aplaude...peor!


Alguém, não interessa quem, nem eu sei ao certo, escreveu-me isto:

quando olhei para ti fizeste me lenbrar o mar calmo e sereno fizes me lembrar as estrelas bonitas e luminosas, fizes me lenbrar o céu bonito e gramde fizes te me lenbrar a lua sincera e romantica e tb fizes me lenbrar uma flor bonita sincera e romantica a rosa. pa veres que em curtas palavras vales mais que uma rosa.

Estremeci.
Não sei se gostei mais do estilo Saramaguense, ou se do desvio gráfico. De qualquer forma, com tanta conotação, este homem bem podia ser poeta.

Itálicos do dito poeta

Chiado em dó maior


Chiadeira, s.f. Todos, à uma, mugem roucas ladainhas, trágicos, uivam...


Itálico de António Nobre

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Justiça pelas próprias mãos

Como podem magras mãos
ficar tão grandes assim... que as sinto esgravatar...

esgravatar...
esgravatar...
esgravatar...

Cabem dentro de mim.

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Declaração Universal dos Direitos do Homem

I
Artigo 31.º
Em caso de linchamento dos direitos e liberdades proclamados na presente Declaração, toda a pessoa, sem distinção alguma, nomeadamente de tamanho de mãos, tem direito a esgravatar a alma alheia.

Itálicos da autoria de Sam The Kid

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Ajuste de contas: Os 3 Moços

Quando Carlota e Carlyle encontraram a taça dos tremoços vazia, depois de a disputarem por 57 tabernosos minutos, e vendo que poucos pesavam já sobre a mão esquerda de cada um, Carlyle disse:

-Carlota, já reparaste que se me desses 1 dos teus tremoços eu ficaria com o dobro dos teus?

-Por outro lado, bastava que me desses 1 dos teus tremoços para que possuíssemos número igual.

Nisto, entra o Pessoa, cheio de metafísica, que, por ter ouvido a conversa, profetiza:

-Qualquer 1 pode fazer diferença. A diferença entre ser o mesmo, ou ser o dobro.

O Carlyle tinha 7, a Carlota 5.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

segunda-feira, janeiro 16, 2006

En attendant GoDi

Quando Godot chegou ao local marcado, e porque muito tempo havia já decorrido, Gogo e Didi já lá não estavam.

Deixaram, contudo, as botas de Gogo para que quando Godot chegasse não fosse invadido por aquele vazio, incertezas, interrogações, deambulações e outras confusões que a sua ausência lhes causou. Queriam fazê-lo crer que existiam. Eles sim existiam, mesmo não estando lá.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Saudades

"O [bocas] anda à roda, anda à roda,

E o mistério do mundo é do tamanho disto"

Eu tenho saudades do Bocas.

O poder da atracção



"Dave Eggers has a theory that we play songs over and over, those of us who do, because we have to 'solve' them, and it's true that in our early relationship with, and courtship of, a new song, there is a stage which is akin to a sort of emotional puzzlement."

Tenho tentado resolver, por estes dias, uma pequena música da Laura Veirs.
Saberei tê-la resolvido quando me sentir fisicamente enjoada logo aos primeiros acordes da dita, a saber:

Magnetized.

Vénia ao Carlos.

O texto é de Nick Hornby.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Arrumado

Estava ele a rumar,
a rumar,
a rumar,
quando encontrou aquelas velhas peúgas que a avó lhe havia oferecido num dia remoto em que, pela primeira vez, e a pinceladas grossas, escreveu na parede do seu quarto. Podia ler-se:

Mais um par e desapareço.

Nunca ninguém associou o que, a partir desse dia, lhe pareceu indissociável: mais um par, de meias, portanto, e desaparecimento.

A rumar,
a rumar,
viu-se feito madalena perdida ou, até mesmo, qual cena de cinema, feito wanderer by Friedrich. Quanto a nós, vemo-lo de costas, de pernas um pouco abertas, exigências do equilíbrio, umas meias novinhas em punho, punho direito, a olhar-se na parede que estava feita coisa à sua frente. Percebeu de imediato que a rumar "virgemmente parado" acabaria sempre no ponto onde estava. Aqui ou ali. Pelo que calçou as meias e, findo um par de décadas, saiu pela porta da frente. Nunca mais ninguém o viu.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Pois, pois, caramba, conta-me histórias


O esquizofrénico Lewis Carroll, ou seja, Charles Lutwidge Dodgson, acumulava o discreto posto de professor de matemática com o inquestionável génio literário, mas acrescia-lhe a vontade de ver o mundo por uma lente, não fosse aquele maravilhoso país conquistado por selvagens vontades que o levassem para lá da visão.

Sim, ele era fotógrafo. Sim, de meninas, entre as quais Alice e as suas irmãs, com quem dava grandes passeios de barco, onde se entregava ao prazer de contar histórias. E contava-as bem.

Menores? As meninas? Caramba, onde querem chegar?

Sim, menores e nuas, mas aquelas fotos são obras de arte e, caramba, ele até contribuiu para o léxico inglês com várias palavras.

Não me venham com histórias, dois mais dois são quatro e, ao fim e ao cabo, que importa quem come quem no final da história?

Carroll diz que é Alice quem xaqueia a rainha e, caramba, foi ele quem escreveu a história.

Rima emparelhada


"Noli mi tangere, for Caesar's I am,
And wild for to hold, though I seem tame."



Sir Thomas Wyatt the elder

segunda-feira, janeiro 09, 2006

És de plástico

- Quando chegares à escola, finge! Finge muito. Finge por tudo e por nada!
- Mas, pai.. isso não é uma coisa feia?
- É a fingir que um homem cresce. Ninguém quer saber quem tu és. Todos verão aquilo que tu fingires ser! Vai, vai e finge bem!

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Estados de espírito

De clique em clique, descobri que há centenas de pessoas a acordar com estados de espírito. Não sei, confesso, se isso será coisa boa. A julgar pelas imagens a que fazem corresponder tais estados de espírito, diria que é capaz de ser esteticamente saudável. Ainda assim, reservo-me o direito de acordar sozinha.

E hoje, tal como todos os dias, acordei assim.

Despenteada.

Antítese


Fumar é feio, sejas dextro ou canhoto, olhes para a esquerda ou para a direita, sejas loiro ou moreno. Fumar é feio.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Thomas Edison's Last Breath



Tese
Henry Ford believed that the human soul exited the body with its last breath. So it was with mixed feelings that we discovered this oddball artifact in Henry Ford's Museum & Greenfield Village.


Antítese
Pois, eu cá "sou como as velas do altar que dão luz e vão morrendo".


Síntese
21 gr

domingo, janeiro 01, 2006

Desembuçar



"Ah! Ah! Ah! Dizem que não sabiam quem era."

Hum! Hum! Hum! A mim ninguém me desembuça.


Qualquer ligação entre a palavra desembuçar e a imagem da representante da elite agrária é pura falha de entendimento.

Assalta-me esta frase batida

"Hoje é o primeiro [2006] do resto da tua vida"

Brindemos, então, com o vinho da casa, que enquanto houver amigos, vinho e cerveja, em princípio, é simples.