quarta-feira, janeiro 11, 2006

Arrumado

Estava ele a rumar,
a rumar,
a rumar,
quando encontrou aquelas velhas peúgas que a avó lhe havia oferecido num dia remoto em que, pela primeira vez, e a pinceladas grossas, escreveu na parede do seu quarto. Podia ler-se:

Mais um par e desapareço.

Nunca ninguém associou o que, a partir desse dia, lhe pareceu indissociável: mais um par, de meias, portanto, e desaparecimento.

A rumar,
a rumar,
viu-se feito madalena perdida ou, até mesmo, qual cena de cinema, feito wanderer by Friedrich. Quanto a nós, vemo-lo de costas, de pernas um pouco abertas, exigências do equilíbrio, umas meias novinhas em punho, punho direito, a olhar-se na parede que estava feita coisa à sua frente. Percebeu de imediato que a rumar "virgemmente parado" acabaria sempre no ponto onde estava. Aqui ou ali. Pelo que calçou as meias e, findo um par de décadas, saiu pela porta da frente. Nunca mais ninguém o viu.

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