domingo, outubro 23, 2005

Copycat

Vais ao espelho e vês a ti mesmo, sentado num velho banco de jardim. Consegues facilmente reconhecer que é Outono. Não pelas folhas mortas no chão nem pelas árvores despidas de si mesmas, mas pela música que ouves vinda do 2º andar. Uma leve brisa toca-te os cabelos e desperta-te do sono. Lembraste imediata e instintivamente que ontem, ainda ontem, havias passado ali e visto um homem, nesse banco, a escrever estas mesmas palavras.
Hei!! Não conseguirás descrever uma imagem que nunca o foi, porque amanhã não serás mais quem és...

segunda-feira, outubro 17, 2005

"Eles não sabem, nem sonham!"

" BONECO
Ouve lá! Porque é que falas tão baixo?

BONECA
(Muito baixinho) Schiu!... é por causa do Homem. Coitado, se ele soubesse que nós mexemos!... Tu já pensaste a sério a este respeito? Um dia, sem querer, tu julgas que o Homem não está aqui e ele está a ver-te! Que horror nem quero pensar!

BONECO
Ora! mesmo que o Homem me visse a mexer, julgava que era um sonho... não acreditava..."

Almada Negreiros, Antes de Começar

sexta-feira, outubro 14, 2005

Instinto Fatal



"Anything approching the change that came over his features I have never seen before, and hope never to see again. Oh, I wasn't touched. I was fascinated. It was as though a veil had been rent. I saw on that ivory face the expression of sombre pride, of ruthless power, of craven terror -of an intense and hopeless despair. Did he live his life again in every detail of desire, temptation, and surrender during that supreme moment of complete knowledge? He cried in a whisper at some image, at some vision, -he cried out twice, a cry that was no more than a breath-

'The horror! The horror!' " Joseph Conrad

O Princípio da Incerteza

"Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

(...)

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente.

(...)
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes."

(Poema de António Gedeão, Mona Lisa de F. Botero)