terça-feira, dezembro 29, 2009

O que aqui se destruiu não voltará a erguer-se

A vida dá tantas voltas que, necessariamente,há sempre um momento e outro em que enjoamos, empalidecemos e passamos mal.

domingo, dezembro 27, 2009

No fiar nunca esteve o ganho

Não confiem.
Não confiem mesmo.
Afinal, continuamos animais,
instintivos,
e imprevisíveis.

Desconfiem.
Desconfiem muito.
E, sobretudo, guardem as mãos bem longe de todo o fogo.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

O Amor é um lugar morto

Naquela manhã, acordaram ambos por volta da mesma hora. Tomaram um duche, comeram cereais. Ele ainda fumou um charro, enquanto ela se estendeu um pouco na varanda a apanhar os primeiros raios de sol.

Estranharam o Amor estar ainda deitado. Preocupados, aproximaram-se da cama e perceberam o que era por demais evidente: o Amor estava morto. O corpo ainda estava quente, mas a falta de vida não deixava dúvidas.

Apressaram-se a sair, porque nenhum dos dois quis ver-se envolvido naquela morte, ser apanhado, ou até mesmo acusado.

Apressaram-se a sair.

E sair foi a última coisa que fizeram juntos.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Try again. Fail again. Fail better.

É sempre difícil falar de uma casa vazia.

Especialmente porque na memória de quem a encheu ela permanecerá assim: cheia.

Dos livros, dos filmes que passavam a horas tardias, das sestas a meio da tarde, da areia da praia presa ao soalho, da brisa das noites de verão a entrar pelas portas da varanda, dos corpos encostados às janelas, dos bons dias, dos capacetes plantados no sofá ao canto, dos fumícios, das discussões, do amor aceso, do prestável colchão de plástico (onde tantas vezes dormimos) a esvaziar à medida que os sonhos esvaziavam também.

Esvaziou o colchão, esvaziaram os sonhos, e por fim esvaziaste, esvaziei e esvaziámos a casa. Falhaste, falhei , falhámos.

E ainda hoje preciso falar dessa casa vazia, dessa casa que adormece comigo e acorda comigo. Dessa casa que recordo, às vezes porque a quero recordar, mas a maior parte das vezes porque não a consigo esquecer.

Porque ainda a vejo cheia. Vejo os vidros embaciados nos Invernos, sinto os meus lábios na tua cara. Abraço-te porque tenho vontade, estico-me no sofá castanho, vejo-te na tua cadeira a fumar, ainda te ouço algumas palavras, mas já não consigo ouvir tudo.

É sempre difícil falar de uma casa vazia.

Especialmente porque, objectivamente, e para lá de tudo o que a memória nos impinja, ela permanecerá assim: vazia.

domingo, novembro 08, 2009

FAUSTO VS JEREMIAS

Um avô, cuja figura ia já desvanecendo na sua memória, e um conselho: Faz-te boa moça, dizia, foram o bastante para nunca se ter entregue.



Jeremias escolheu, sempre, o seu lugar do lado de fora.

quarta-feira, março 04, 2009

Tudo sobre Eva





Do mistério das coisas ninguém duvide.


Porque há sempre uma parte de nós, talvez a pior, que ninguém conhece.


quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Pulsar

Janelas do meu quarto


Poderia escrever os versos mais belos esta noite.
Soubesse eu de poesia.
Pintaram-me, mascararam-me, e eu até cheguei a viver, por fases, convencida.
Especialmente depois de meia dúzia de shots.
Acreditava em qualquer coisa, se boa.
Como escrever os mais belos versos, numa noite qualquer, quisesse eu, mesmo que não soubesse.

Não poderiam, nem que soubessem, imaginar-me em fases de crença. Degolaria o mundo com um sorriso dos meus.

São bonitos os meus sorrisos.

Poderia?
Desconvenço-me com a garrafa de vinho. São tão bonitos os meus sorrisos.

Vou escrever o verso mais triste esta noite. Escrever, por exemplo: “Como são bonitos os meus sorrisos.”

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

sexta-feira, janeiro 30, 2009

E agora que a erva assaltou os meus caminhos?


Parar, pois então. Estender-me. Ver o verde a deslizar-me olhos adentro. Ouvir os zumbidos dos que sempre vão andando.

E esperar. Esperar que a erva me assalte o corpo e me dilua num imenso borrão de cor.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Lonlêncio

Vai longo o silêncio, o devaneio.
Remamos sobre as palavras, como se não tivéssemos guelras. Porque nos é difícil entender, muitas vezes, tantas vezes, vezes a mais, se é sobre ou sob que devemos remar.

Vai longo o silêncio.