"É então que surges: o teu corpo, que se confunde com o das palavras que te descrevem, hesita numa das entradas do verso. Puxo-te para o átrio da estrofe; digo o teu nome com a voz baixa do medo; e apenas ouço o vento que empurra portas e janelas, sílabas e frases, por entre as imagens inúteis que me separaram de ti."
sexta-feira, novembro 24, 2006
Outono na minha terra
Depois da forte chuvada, num dia em que o verbo ventar se fez presente, milhares de sobreviventes reuniram-se em praça pública para prestar o último adeus aos mortos, cujo número chegou já aos mil, embora a recolha continue.
Só eu vi seis espalhados por diversos caixotes, mesmo ao lado dos jornais e das cascas de banana. Outros tantos em valas comuns, rotos, rompidos, rasgados. Mortos.
Dois morreram mesmo à minha frente, estraçalhados pelos elementos naturais, a saber: muito ar, muita água e muita falta de jeito.
Condoída, é como estou, porque se há dias em que não saio de chapéu-de-chuva são dias de chuva.
Imagem roubada, claro está.
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