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Passaram-se meses de areia fina a raspar-me na cara, nas pernas nuas, no peito seco; meses de areia não tão fina a riscar-me as meninas dos olhos, a meter-se ouvidos adentro, a acumular-se sobre as feridas.
Passaram-se meses de sol abrasador a queimar-me a pele tenra, os cabelos desidratados, as unhas quebradas.
Passaram-se muitos meses sob o sol, sobre e sob a areia, caminhando a arrastar, cuspindo as últimas gotas de água do meu corpo.
Passou-se tudo isso e muito mais de alguma coisa. E passados tão estranhos meses deparo-me com uma fonte cheia, que derrama, que chama, que anima.
Vou parar, deixar que a fonte me anime e brincar um pouco.
Não tardará que a fonte se transforme em poço. E, então,tudo será como deve ser.
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