sábado, novembro 12, 2005

"Não me [assoprem], por amor de Deus!"

Acendi uma breva, eu que não fumo, logo depois de acender um fósforo.

Apaguei as luzes. Pus as pantufas e, enquanto me dirigia para a cama, fui largando sinais de fumo pelo corredor. Num sábado à noite, um corredor é, sem tirar nem pôr, tal e qual, uma Tóquio inteira. Podia ter acendido uma fogueira com o tapete das Índias e a imitação do Grito, pendurada à esquerda, que teria valido o mesmo. Nada.

"Já disse que não quero nada", apenas fumar de pé, enquanto passo através.

Apenas nunca apagar o que acendo. Apenas limitar-me a deitá-lo para o cesto dos papéis, "como tenho deitado a vida."

Apenas esperar que do cesto de latão se adivinhe "une toute petite lumière, just a light, una picolla... em todas as línguas do mundo uma pequena luz bruxuleante, brilhando aqui no meio de nós, entre o bafo quente da multidão, a ventania dos cerros e a brisa dos mares, e o sopro azedo dos que a não vêem, só a adivinham e raivosamente assopram."

Apenas adivinhar e nunca assoprar. E "depois deito-me para trás na [cama]."

"Tenho em mim [apenas] todos os sonhos do mundo."

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