Quem escreveu isto
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes[...]
[...]tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
[...]
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"
pode muito bem ter criado o mundo.
Fernando Pessoa
"É então que surges: o teu corpo, que se confunde com o das palavras que te descrevem, hesita numa das entradas do verso. Puxo-te para o átrio da estrofe; digo o teu nome com a voz baixa do medo; e apenas ouço o vento que empurra portas e janelas, sílabas e frases, por entre as imagens inúteis que me separaram de ti."
quarta-feira, novembro 30, 2005
terça-feira, novembro 29, 2005
"Corre. Tu podes."
"Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.
[...]
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero mi despierto siempre
y siempre quero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos."
quarta-feira, novembro 23, 2005
I could spit on a stranger
"However you feel,
whatever it takes,
whenever it's real,
whatever awaits,
whatever you need,
however so slight,
whenever it's real,
whenever it's right.
I've been thinking long and hard about the things you said to me,
like a bitter stranger,
and now I see the long, the short, the middle and what's inbetween,
I could spit on a stranger"
text by Pavement
photo by Carlos Moreira
segunda-feira, novembro 21, 2005
Quedos e mudos
Cãosa-me esta Democracia domesticada.
Se isto vos interessa -porque sempre é mais um, e a soma numa democracia é essencial-, ofereço o meu voto, que, de facto, não vale um rabo canino a abanar, embora me tenham tentado cãovencer de que valia um cão inteiro, com direito a latir e tudo e tudo e tudo.
Cãosa-me que ganhe sempre a maioria. É que ganha sempre a maioria. Raios a partam, que até votava Nike se o modelo estivesse bem desenhado, ou a borracha cheirasse a osso.
Eu não votei em nada disto. Mas isto sou só eu, definitivamente subtraída.
Ofereço-vos também um grande poema, não porque a palavra "cão" surja escrita 30 vezes, mas porque o cão me parece um fabuloso objecto correlativo.
"(...)
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão além, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia-a-dia
(...)
cão moído de pancada
e condoído do dono,
(...)
cão de olhos que afligem,
cão-problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!"
O Cão é de Alexandre O'Neill. A praça dos desempregados é de F. Botero.
sexta-feira, novembro 18, 2005
quinta-feira, novembro 17, 2005
RUF -1198- RUM
"Eu não moro mais em mim"
Procuro-o, ao rumo, sem resultados.
"Eu perco o chão
eu não acho as palavras"
Até já o procurei no dicionário, mas ao folhear energicamente todas aquelas palavras, caoticamente organizadas, que nos vão enchendo a boca, deparei-me com um espaço vazio.
"Eu perco o freio"
Imediatamente me lembrei que, por ser o meu dicionário ilustrado, um amigo da primária levou-me a página dos mamíferos ruminantes. Ele pediu e eu deixei.
"Estou em milhares de cacos"
Guardo o som da página a rasgar.
"Eu estou ao meio"
Ilustrações a negrito de Adriana Calcanhoto. Ilustração a cores de Picasso.
terça-feira, novembro 15, 2005
"Cantarei até que a voz me doa"
segunda-feira, novembro 14, 2005
Democracia
"É impossível conhecer o espírito, pensamento e determinação de qualquer homem, antes de ele se ter exercitado no poder..."
Antígona de Sófocles.
domingo, novembro 13, 2005
"Meia noite e uma guitarra"
sábado, novembro 12, 2005
"Não me [assoprem], por amor de Deus!"
Acendi uma breva, eu que não fumo, logo depois de acender um fósforo.
Apaguei as luzes. Pus as pantufas e, enquanto me dirigia para a cama, fui largando sinais de fumo pelo corredor. Num sábado à noite, um corredor é, sem tirar nem pôr, tal e qual, uma Tóquio inteira. Podia ter acendido uma fogueira com o tapete das Índias e a imitação do Grito, pendurada à esquerda, que teria valido o mesmo. Nada.
"Já disse que não quero nada", apenas fumar de pé, enquanto passo através.
Apenas nunca apagar o que acendo. Apenas limitar-me a deitá-lo para o cesto dos papéis, "como tenho deitado a vida."
Apenas esperar que do cesto de latão se adivinhe "une toute petite lumière, just a light, una picolla... em todas as línguas do mundo uma pequena luz bruxuleante, brilhando aqui no meio de nós, entre o bafo quente da multidão, a ventania dos cerros e a brisa dos mares, e o sopro azedo dos que a não vêem, só a adivinham e raivosamente assopram."
Apenas adivinhar e nunca assoprar. E "depois deito-me para trás na [cama]."
"Tenho em mim [apenas] todos os sonhos do mundo."
Apaguei as luzes. Pus as pantufas e, enquanto me dirigia para a cama, fui largando sinais de fumo pelo corredor. Num sábado à noite, um corredor é, sem tirar nem pôr, tal e qual, uma Tóquio inteira. Podia ter acendido uma fogueira com o tapete das Índias e a imitação do Grito, pendurada à esquerda, que teria valido o mesmo. Nada.
"Já disse que não quero nada", apenas fumar de pé, enquanto passo através.
Apenas nunca apagar o que acendo. Apenas limitar-me a deitá-lo para o cesto dos papéis, "como tenho deitado a vida."
Apenas esperar que do cesto de latão se adivinhe "une toute petite lumière, just a light, una picolla... em todas as línguas do mundo uma pequena luz bruxuleante, brilhando aqui no meio de nós, entre o bafo quente da multidão, a ventania dos cerros e a brisa dos mares, e o sopro azedo dos que a não vêem, só a adivinham e raivosamente assopram."
Apenas adivinhar e nunca assoprar. E "depois deito-me para trás na [cama]."
"Tenho em mim [apenas] todos os sonhos do mundo."
segunda-feira, novembro 07, 2005
sábado, novembro 05, 2005
sexta-feira, novembro 04, 2005
Fisicalidades? (C)
"Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., -unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... -abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a vida exprimir-se sem disfarce!"
Imagem de Carlos Schwabe e poema de José Régio
A ver, com quantos paus se faz uma palavra?
Fijola?
Sim,
Cabedal.
Lisa, lisa, lisa.
Datismo?
Desconstruindo:
Fisicalidades.
Por mais paus que recolha, fisicalidades nunca chegará a palavra. Sendo que palavra representa o que está para além da matéria.
Sim,
Cabedal.
Lisa, lisa, lisa.
Datismo?
Desconstruindo:
Fisicalidades.
Por mais paus que recolha, fisicalidades nunca chegará a palavra. Sendo que palavra representa o que está para além da matéria.
quarta-feira, novembro 02, 2005
Comam chocolates, pequenas; Comam chocolates!
"Viver sempre também cansa.
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
(...)
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerra, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-nos a viver até à Morte!
(...)"
Poema de José G. Ferreira
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
(...)
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerra, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-nos a viver até à Morte!
(...)"
Poema de José G. Ferreira
Subscrever:
Mensagens (Atom)