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Eu sempre de um lado para o outro. De um lado para o outro. De um lado para o outro. Talvez mais uma vez. Sim. De um lado para o outro. Deste lado sou eu. Neste outro também. Sempre eu. Sempre de um lado para o outro.
E agora tocam à porta. E eu visto-me. Não penso em vestir-me, ouço tocar à porta e visto-me sem pensar. E continuam a tocar, porque antes de abrir visto-me. E enquanto me visto eles tocam, sempre tocam. Mas não me tocam. Visto-me primeiro. Depois já estou vestido e quem agora estiver do outro lado da porta, ao ver-me, já deste lado da porta, assim vestido... Sim, porque eu visto-me primeiro.
E quem estiver do outro lado da porta ao ver-me deste lado pensará que me vê, mas eu estou no outro lado. No lado da porta fechada, antes do toque, antes das roupas. E eu não sou só eu, porque sou eu sempre de um lado para o outro, sem ser sempre o mesmo num lado e no outro.
Imagem de Colin Thompson. Um bem haja à Dina que vai entrar e ficar.